I. A Fé no Comércio e o Comércio da Fé
Quem Acredita em Papai-Noel?
Tempos atrás, eu ouvi a história de um comerciante que resolveu revender o Guaraná Jesus em São Paulo. Trata-se de um refrigerante cor-de-rosa, com leve sabor de cravo e canela que é uma marca de grande sucesso de vendas no Maranhão.
Segundo consta, a fórmula da bebida foi criada pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes que, por ironia do destino, teria sido ateu e foi excomungado após uma agressão física contra um padre. Originalmente, Norberto visava finalidades medicinais, assim como o farmacêutico John Pemberton, criador da formula do refrigerante Coca-Cola®. Consta que o guaraná deveria servir para os males do estômago, assim como à Coca-Cola® deveria agir no alivio de dores de cabeça.
Não se abatendo com o fracasso da proposta medicinal, Norberto usou o xarope para produzir uma bebida para os netos. A aceitação foi tanta que a bebida extrapolou os limites familiares para cair nas graças dos consumidores maranhenses. O Guaraná Jesus ganhou o mercado local sem precisar de vultosas campanhas publicitárias ao seu redor. Sob os slogans "O Sonho Cor-De-Rosa", "Abençoe sua sede!", "Guaraná Jesus, porque nem só de pão vive o Homem" e "Fé no estômago", a bebida, literalmente, obteve a aprovação do gosto popular.
Em 2001, ele foi incorporado pela The Coca-Cola Company que intencionava extinguir a marca por competir vitoriosamente contra o produto americano. A multinacional seguia à risca a estratégia de comprar e fechar as fábricas concorrentes ao redor do mundo com a conivência dos governos de onde estava instalada. O caso do Maranhão é atípico porque a resposta dos maranhenses foi organizar um boicote à compra de Coca-Cola®. O mote "Volta Jesus!" deu voz ao protesto e o governo do Maranhão interferiu, proibindo o fechamento da fábrica. Diante disso, a Coca-Cola teve que ceder e recolocar o refrigerante no mercado. Porém, restringiu a sua distribuição àquele estado.
Voltando ao comerciante paulistano, ao tomar contato com a marca, ele apostou na ideia de ir à porta das Igrejas e vender para os evangélicos. Sua estratégia de vendas foi descrita através da seguinte cena:
- Irmão, você aceita "Jesus" na sua vida?
- Sim, eu a-aceito! - responde o irmão meio embaraçado.
- Irmão, você aceita deixar que "Jesus" entre dentro de você para saciar a sua sede?
- S-s-sim...
- Então: toma "Jesus", irmão! - diz, entregando uma amostra para degustação.
Essa história serve apenas para ilustrar um artifício comercial e não está sendo narrada para condenar a atitude do negociante que fez uma associação bastante lógica e anedótica para encontrar o seu nicho de mercado. A reação natural deveria ser o riso, sem qualquer sentimento de indignação, pois o Guaraná Jesus é somente um produto que obteve grande sucesso através da coincidência dos nomes e a popularidade do Filho de Deus.
A bebida não tem uma história de planejamento de marketing ou exploração oportunista. Várias circunstâncias não intencionais, assim como o senso de humor popular, favoreceram o seu sucesso. Mas existem produtos que nascem dentro de uma concepção voltada para uma associação intencional com o nome de Jesus Cristo. O nome de Jesus, em si, se tornou uma grande marca comercial em torno da qual gravitam inúmeros outros produtos. Produtos que pertencem a uma categoria que recebe o nome de Gospel e que se destina ao consumo pelo público evangélico.
É interessante pensar sobre o quanto temos nos tornado materialistas, diante de uma sociedade capaz de transformar o que quer que seja em objeto de consumo, inclusive aquilo que temos por sagrado. Em nossos dias, conforme comentou um bom amigo e eu concordo: a quantidade daqueles que aceitariam ao verdadeiro Senhor Jesus deve ser facilmente superada por aqueles que aceitariam a bebida, sem vacilar.
No final de cada ano, ocorre uma grande explosão de estímulos midiáticos, oferecendo os mais diversos produtos para alimentar a indústria de consumo. Isto faz com que muitos realizem compras por impulso e se envolvam em dívidas desnecessárias.
Cifras extraordinárias são movimentadas no período que antecede a data escolhida para comemorar o nascimento de Jesus e isto já nem mesmo se baseia no pretexto Bíblico de agirmos segundo fizeram os reis magos que saudaram o nascimento do Messias lhe ofertando ouro, incenso e mirra. Através dos mecanismos de exploração comercial, ao invés de Jesus Cristo, o papel de principal protagonista do Natal tem sido ocupado por um senhor gordo e bonachão conhecido como "papai-noel".
Segundo contam, ele foi inspirado em um bispo católico da Ásia Menor, no século III, cujo nome é Nicolau. Esse bispo teria se apiedado de três moças pobres que estavam impedidas de se casar e destinadas à prostituição, pois o pai não podia pagar os seus dotes. Jogou saquinhos de moedas de ouro pela chaminé que caíram dentro de meias que secavam ao fogo e pertenciam a elas. Desse gesto, teria surgido o costume de colocar meias nas lareiras para receber os presentes natalinos. Foi associado ao Natal na Alemanha, onde é conhecido como Sankt Nikolaus ou Sankt Klaus, de onde derivaria o "Santa Claus" americano. Após testemunhos de milagres que lhe foram atribuídos, ele foi santificado pela Igreja Católica, tornando-se São Nicolau.
Papai-noel pode ser definido como a representação de um princípio de recompensa que premia segundo o merecimento pessoal e de acordo com um balanço de obras praticadas que é feito ao término de cada ano. Sabemos, porém, que esse mecanismo não atua de um modo imparcial e igualitário. Muitos trabalhadores íntegros que agem corretamente, mas não podem adquirir o que as propagandas alardeiam como essencial, sentem-se socialmente excluídos diante daqueles que podem.
No universo infantil, esse princípio de recompensa fundamentado no poder de compra, alimenta sentimentos de injustiça e cria os "órfãos de papai-noel". Algo que quando se soma com os efeitos de uma desagregação familiar, não havendo quem ensine a diferença entre um papai-noel comercial e um Papai Eterno Celestial, pode fazer com que cresçam se sentindo deserdados pelo próprio Deus, contra quem mais tarde se revoltam e passam a negar.
Crianças só conhecem o verbo "querer" e são alvos fáceis das campanhas publicitárias. O verbo "poder", usado para decidir sobre qualquer tipo de nova aquisição, deve ser conjugado pelo adulto que se vê no constrangimento de tentar fazer com que as suas crianças se conformem.
Nesta semana, eu tive a oportunidade de observar um pai acalmando seu filhinho no colo, ao mesmo tempo em que tentava explicar que se ele não estava comprando o brinquedo que o menino desejava ganhar, não era por falta de amor ou de merecimento e sim, por não ter dinheiro o bastante. Portanto, existe o lado cruel de chaminés apertadas por onde o velho gordo não passa.
Há também o aspecto ridículo para quem se situa no hemisfério sul, onde o período corresponde ao verão. Até o final do século XIX, papai-noel vestia roupas de inverno nas cores marrom ou verde. Em 1886, a revista Harper’s Weeklys publicou a primeira versão vermelha e branca, sob a autoria do cartunista alemão Thomas Nast. Em 1931, a Coca-Cola reviveu esse figurino numa campanha publicitária de tamanho sucesso que essa imagem foi consolidada e permanece até os dias de hoje. No Brasil, o estereótipo do "bom velhinho" é tão exótico que parece o prenúncio carnavalesco de um rei momo temporão. Considerando a predominância do clima tropical, quem se habilita a interpretar a personagem do papai-noel, sofre com o desconforto de uma fantasia sufocante que abafa a transpiração. Calor ainda mais pitoresco, tendo em vista as conexões com a maior indústria de refrigerantes do mundo...
Infelizmente, a suposta relação entre as benesses de Deus e as posses materiais tem sido ensinada nas próprias Igrejas cristãs. Neste nosso mundo capitalista, a própria religião se torna cada vez mais escrava de um ideal de prosperidade que pode ganhar contornos de uma ganância sem limites.
II. Celebrações Pagãs Cristianizadas
"O Feitiço se voltou contra o Feiticeiro"?
Dentro do mesmo aspecto religioso citado, o Natal não é uma unanimidade cristã. A data tem origem controversa e é alvo de polêmicas. Além de não existirem registros confirmatórios, existem indicações contrárias de que Jesus tenha realmente nascido no dia 25 de Dezembro. Porém, opostamente ao argumento de que o Natal seja uma festa pagã dissimulada, é mais sensato admitir que a data tenha sido determinada como parte da estratégia de instauração do cristianismo como religião oficial do estado romano. Com a finalidade de redirecionar cultos dedicados às divindades pagãs, a festividade natalina foi sobreposta ao período em que eram realizadas as solenidades correspondentes à Saturnália e a Brumália. Se ao invés de substituí-las, o Natal acabou por assimilar muitas de suas práticas a ponto de ser totalmente envolvido por elas, já é outra conversa.
As Saturnálias eram oferecidas a Saturno, deus romano da agricultura que equivale ao deus Cronos da mitologia grega, reitor do tempo. De fato, o plantio está atado ao fator tempo e Saturno era considerado um deus rigoroso, porém justo. Ele premiava com a realização dos desejos, todos aqueles que se esforçavam com constância e persistência para atingir suas metas. Isto implica no mesmo tipo de gratificação pelo mérito relacionado à figura do papai-noel. Papai-noel, supostamente, julga e presenteia aqueles que persistam em agir bem durante o ano, adotando a mesma premiação em função do tempo que mitológica e astrologicamente é regido por Saturno. Diga-se de passagem, Saturno também representa a velhice e até nisso revela identidade com o velho Noel.
No estudo da Astrologia, ele é muitas vezes chamado de "O Senhor do Carma" por ser encarregado de julgar as ações dos homens, cobrando suas dívidas e dando a cada um, segundo suas obras. Ele rege os caminhos pedregosos, as rochas e as montanhas. De tal forma, Saturno representaria os obstáculos ou os desafios que devem ser superados no processo evolutivo de cada ser humano. Simbolicamente, remete à ideia maçônica de lapidação da pedra bruta pela qual o homem deve passar, mediante várias provas, antes de atingir a plenitude da sua existência.
Conforme veremos mais adiante, os anéis que circundam o planeta servem ainda de iconografia fálica para cultos e praticas de magia sexual. Além de seu formato sugestivo, o planeta possui conexões estabelecidas com o libidinoso deus Pã que é um dos mitos de Capricórnio, signo que está sob a regência de Saturno.
Na prática, o lema de "saber para prever e prever para prover", promovido pela escola positivista de August Comte, é muito mais antigo do que se possa imaginar à primeira vista. Desde os primórdios de sua história, as civilizações têm buscado formas de antecipar as contingências dos ciclos de fenômenos naturais, visando reduzir ou administrar o impacto sobre suas existências. Uma dessas ferramentas é a Astrologia que tem origem na observação astronômica e na busca de relações entre os fenômenos celestes e terrestres.
Alguns talvez não saibam, mas os sistemas de contagem de tempo obedecem a referenciais astronômicos. Dependendo da cultura em enfoque, o principal protagonista do calendário utilizado é o Sol. Por tal fato, é importante ter em mente que o inverno no hemisfério norte e o verão no hemisfério sul correspondem ao momento da entrada do Sol no signo de Capricórnio, pertencente ao elemento terra que, dos quatro elementos, é o mais ligado à satisfação dos sentidos físicos e aos apelos do mundo material.
Conforme já dito, o planeta Saturno é o regente de Capricórnio e notamos assim, uma relação entre Capricórnio, Saturno e o Sol atuando astrofisicamente por trás dos cultos e celebrações da época.
Sob um olhar mais atento, veremos que os folguedos pagãos ainda persistem, em comportamentos onde as pessoas praticam excessos e se fixam apenas no recebimento de presentes ou em mesas fartas, regadas à bebida abundante. Constatação que não é feita para condenar a celebração do Natal, em si, mas para levantar uma profunda reflexão sobre quem, de fato, estaria sendo homenageado ou o quê realmente estaria sendo comemorado nessa ocasião. Essa identificação depende de uma sincera análise das intenções, atitudes e consciência de cada um em relação à data.
Muitos opositores do Natal afirmam que o grande homenageado nessa época é Ninrode.
Na Bíblia, o nome de Ninrode é assim citado:
"Os filhos de Cão: Cuche, Mizraim, Pute e Canaã. Os filhos de Cuche: Seba, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá; e os filhos de Raamá são Sebá e Dedã. Cuche também gerou a Ninrode, o qual foi o primeiro a ser poderoso na terra. Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu ele para a Assíria e edificou Nínive, Reobote-Ir, Calá, e Résem entre Nínive e Calá (esta é a grande cidade)." Gênesis 10: 6-12
A idéia de construir uma cidade e uma torre que alcançasse céu é reputada a Ninrode; empreendimento que resultou na confusão de diferentes línguas e corresponde à famosa história da torre de Babel, segundo Gênesis 11: 1-9.
De acordo com alguns escritos, Ninrode era tão devasso que tomou a sua própria mãe, Semíramis, em casamento. Dessa união, logo após a morte de Ninrode, nasce Tammuz, em 25 de Dezembro. Além de filho-irmão, foi dito que Tammuz seria ninguém menos do que Ninrode reencarnado.
Na realidade, o que impressiona nessa história é a desenvoltura para converter em herói, alguém que se destacou na rebeldia contra Deus. Um homem que imitou as atitudes do Anjo Caído e personificou os extremos da ganância pelo poder. Sem dúvida, um grande construtor e nesse ramo, um modelo para aqueles que o consideram como o primeiro maçom da história da humanidade pós-diluviana. De tal forma, Ninrode foi eternizado através de uma identificação com fenômenos naturais relacionados aos ciclos da luz solar.
As religiões pagãs estão intimamente ligadas aos ritmos da natureza e, nesse aspecto, não são boas nem más, convergindo para uma tentativa de harmonização entre o homem e o meio ambiente. O Mal consiste no endeusamento de tais fenômenos, na manipulação devocional e no estabelecimento de mistérios que somente sacralizam o intuito de concentrar o poder de muitos nas mãos de poucos.
Ninrode, Semíramis e Tamuz, na verdade, são figuras bem menos importantes pela existência mundana que tiveram ou pelos atos que tenham praticado do que pelos princípios que eles mitificam.
Acima de qualquer condenação moral, a implicação de Ninrode ter desposado a própria mãe possui um significado maior do que a decadente perversidade de uma relação incestuosa. É preciso ver Semíramis através de uma perspectiva mais ampla, pois ela foi e é usada para representar a própria mãe natureza, fonte de toda a vida terrena. Tendo essa premissa em mente, lembremos Lavoisier que disse:
"Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma."
A natureza recicla continuamente a sua própria criação e o casamento de Ninrode e Semíramis, mãe e filho, ilustra esse mesmo processo indissolúvel. Ninrode representa a morte no sentido de um adormecimento ou latência necessária das forças da natureza no advento do inverno. Conforme nos aproximamos dessa estação, além da queda de temperatura, as noites se alongam, os dias encurtam e a vida se recolhe em si mesma.
O Sol parece menor ou mais distante até alcançar a sua inclinação máxima, envolvendo a Terra nas trevas da noite mais longa do ano, quando entra no signo de Capricórnio e inaugura o inverno para quem vive no hemisfério norte do planeta. Mas, em torno do dia 25 de Dezembro, o Sol parece retornar, aumentando gradativamente o calor e a intensidade da luz que irradia. Com ele, ressurge a vida. Tal fenômeno ficou conhecido na antiguidade como “Natalis Solis Invictus” (Nascimento do Sol Invencível).
Simbolicamente, Ninrode morre nos braços de Semíramis, que o recria através de Tamuz (diminuto sol invernal ou deus-menino), filho, irmão e reencarnação de Ninrode. Na religiosidade pagã, trata-se da consumação de um ciclo para o início de outro, dando continuidade à vida. Outras culturas utilizam mitos relativamente similares para essa mesma representação, como é o caso de Osíris, Ísis e Hórus.
"Assim como é acima, também é abaixo", diz o aforismo hermético de correspondência. Na Terra, Semíramis personifica a natureza que recicla e revitaliza a fauna e a flora. No céu ela é o próprio espaço. É a rainha celestial em cujo ventre ou manto estrelado trafega o Sol, em seu percurso pelo Universo. Notem como aquilo que é natural e pertence à ordem do mundo fenomênico passa a adquirir contornos de religiosidade mística.
O leitor deve reter na memória que, para quem vive no hemisfério norte, o palco desses acontecimentos cósmicos e suas repercussões terrestres é o signo de Capricórnio, regido por Saturno. Saturno era o deus da abundância, resultante das boas colheitas que trazem os frutos de um trabalho consistente. O seu nome deriva do latim "satur", mesma raiz de saturar, no sentido de fartar-se, de nutrir-se ou encher-se ao máximo. De fato, dentro da Astrologia, uma das características de Saturno é justamente a de estabelecer o ponto de saturação correspondente aos limites de cada ser humano.
O seu símbolo gráfico é formado pelo semicírculo (alma) que sustenta a cruz (matéria), pois Saturno representa o conjunto de deveres e obrigações que pesa sobre cada alma, enquanto ocupar o invólucro material. Fardo sentenciado na Bíblia:
"Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás." Gênesis 3: 19
A fábula da cigarra e da formiga ilustra essa ideia de que aquele que trabalha com afinco, conquista o direito de usufruir o produto do seu esforço. Inversamente, tratando-se de uma comemoração, as Saturnálias saudavam Saturno através de um comportamento libertário (e libertino) que traduzia o rompimento temporário desses limites. Elas representavam momentos de alívio para as restrições do aspecto disciplinador de Saturno, atuando como uma catarse social, semelhante às festas carnavalescas. A quebra aparente e provisória de barreiras, somada ao nivelamento de privilégios festivos entre as diferentes classes do império, servia para abrandar parte da pressão originária das desigualdades existentes entre o povo e a elite dominante.
Em grande parte do continente europeu, a segunda metade do mês de Dezembro reunia condições adequadas para essas celebrações. O abate de parte dos rebanhos sobrevinha da necessidade econômica de poupar gastos com alimentação, diante da redução dos pastos. Para muitos, esse era o único período do ano onde era garantida a presença de carne nas refeições, complementando a dieta para melhor suportar os rigores do inverno. Adicionalmente, o vinho e a cerveja atingiam a maturidade do seu ponto de fermentação para o consumo.
Assim sendo, a eclosão de tais eventos contribuía para um clima de festa que propiciava exageros à mesa.
Saturno e Capricórnio presidem as questões de hierarquia e status social. Durante as Saturnálias, permitia-se uma quebra dessa estratificação que separa os indivíduos em classes distintas, com privilégios e poderes diferenciados. Nas Saturnálias, brincava-se com uma inversão de papéis, onde o senhor podia se passar por escravo e o escravo encenar o papel de senhor. Comida, bebida, sexo e troca de presentes era a tônica de tais celebrações e o leitor já deve ter percebido que tais comportamentos não estão perdidos em um passado remoto.
Usemos como exemplo o meio corporativo, onde, claramente, perduram algumas das tradições e excessos cometidos durante as Saturnálias, através dos eventos de confraternização de final de ano. Tais confraternizações, geralmente, reúnem funcionários de todos os departamentos e escalões que, em muitos casos, podem dividir as mesmas mesas, independente de qualquer diferença hierárquica.
Descontraidamente, dançam, comem e bebem juntos, no pressuposto de uma unidade familiar ou fraternal, baseada em interesses comuns. Conforme avançam ao som da música, bebedeira e comilança podem, inclusive, estender esse envolvimento para etapas que se desenrolam além dos limites visíveis de onde tais comemorações acontecem...
São realizados sorteios onde todos, indistintamente, podem ser premiados por seus serviços à empresa. Além disso, é comum que haja a entrega de presentes do assim chamado "amigo oculto" ou secreto. Essa brincadeira também abre a possibilidade de um inter-relacionamento entre diferentes níveis hierárquicos, onde chefes presenteiam funcionários e funcionários presenteiam chefes, minimizando suas diferenças e aplacando desentendimentos pessoais. De tal modo, esses momentos servem como válvula de escape para despressurizar as tensões entre o mando e a obediência.
É importante ressaltar que, em nossos tempos modernos, impera muito mais uma espécie de ceticismo materialista do que qualquer tipo de rendição de graças a deuses pagãos. O simbolismo está presente, mas a grande maioria das pessoas não faz qualquer relação intencional ou realiza ritos voluntários e conscientes.
Quem celebra o Natal em função da satisfação carnal ou material, não celebra Jesus Cristo. Mas quem o faz em memória do seu nascimento, reaviva o amor de sua presença entre nós e aproveita a receptividade da época para proclamar o seu nascimento, ainda que a data não possua comprovação real e tenha sido escolhida por critérios políticos.
III. O Enigma e a Materialidade da Cruz Celestial
O que Dizem os Astros?
Muito mais do que um instrumento de suplício e morte, a cruz é um símbolo rudimentar que é bastante anterior ao cristianismo e está relacionado aos ciclos vitais da natureza. Antes de prosseguirmos, é preciso abordar alguns conceitos básicos sobre mecânica celeste para compreendermos a origem das estações climáticas do ano.
A Terra descreve uma trajetória anual em torno do Sol através de um movimento conhecido como translação. Entretanto, do ponto de vista de um observador localizado na superfície terrestre, é o Sol que parece se mover pelo céu. Como não se trata de algo real, esse percurso é chamado de movimento aparente. A linha imaginária traçada por esse movimento solar aparente pelo céu recebe o nome de eclíptica.
Em astronomia, grandes círculos ou círculos máximos são expressões usadas para descrever um traçado que circunda e divide a esfera terrestre em dois hemisférios iguais. As estações do ano derivam da relação entre dois desses círculos. Já falamos sobre o primeiro que é a Eclíptica. O segundo recebe o nome de Equador Celeste que é uma linha equidistante aos polos, ou seja, ela fica exatamente entre os dois polos celestes:
A Eclíptica possui uma inclinação que varia em torno dos 23º em relação ao Equador. Conforme veremos através das próximas ilustrações, isso provoca mudanças no ângulo de incidência de luz e calor, dando origem aos Equinócios e Solstícios que são os quatro pontos cardeais celestes e demarcam as quatro estações climáticas.
Observem o desenho abaixo:
A imagem ilustra o efeito da inclinação da Eclíptica em relação ao Equador Celeste. De acordo com a posição dos solstícios (Câncer ou Capricórnio) será inverno em um dos hemisférios e verão em outro. A obliquidade do eixo de rotação da Terra faz com que a distribuição da luz seja uniforme nos pontos de intersecção com o Equador (Equinócios) e desigual conforme o deslocamento se aproxime do extremo sul ou norte (Solstícios). As estações acontecem à medida que o ângulo dos raios solares se alterna entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, passando pela linha do Equador.
Dissemos que os pontos onde a incidência de luz é uniforme são chamados de Equinócios que é uma palavra de origem latina, onde "aequus" significa igual e "nox" significa noite. Portanto, a palavra equinócio quer dizer "noites iguais" e diz respeito ao período do ano no qual existe equivalência entre a duração do dia e da noite.
Já os pontos onde a duração entre o dia e a noite atinge sua maior desigualdade são denominados solstícios. Solstício deriva do latim "sol" (relativo ao Sol) e "sistere" que significa "parado". Assim, a palavra solstício quer dizer "Sol parado", pois o Sol permanece aparentemente imóvel. A utilização desse termo é adequada porque quando o Sol atinge a sua máxima declinação norte ou sul, um observador posicionado no hemisfério oposto terá a impressão de que ele está parado até que comece a retornar, cerca de três dias depois.
No hemisfério norte, isso deu origem ao chamado Sol Invicto, pois após atingir a sua maior latitude sul, consumando a noite mais longa do ano para essa metade do globo, o Sol empreende sua volta para o norte, aumentando gradualmente a duração do dia e a intensidade da luz.
Como os costumes que examinamos são originários do hemisfério norte, convém analisar o ritmo das estações na perspectiva daquele hemisfério. Basta, porém, inverter a sequencia do raciocínio para compreender que se trata do mesmo mecanismo que atua no hemisfério sul.
Durante a Primavera, no hemisfério norte, o Sol transita pelo equinócio de Áries. Quando alcança o trópico de Câncer é a época do verão. Desse ponto em diante, ele se desloca para o Sul, atinge novamente o Equador, cruzando o Equinócio de Libra para dar início ao Outono. Depois, o Sol prossegue em direção ao Trópico de Capricórnio, inaugurando o Inverno. Completado o percurso, o Sol irá retornar para o norte, anunciando que uma nova Primavera se aproxima.
Muitas das festividades e divindades pagãs giram em torno da observação desse ciclo solar e de seu impacto sobre a continuidade da vida. Na antiguidade, o registro criterioso do movimento celeste inspirou a criação de templos e monumentos alinhados mediante coordenadas que permitissem reconhecer os momentos cíclicos de vital importância para a sobrevivência dos povos.
As imagens seguintes complementam o entendimento dos conceitos abordados:
Notem a linha do Trópico de Capricórnio passando pelo Brasil:
Viajando por algumas estradas, é possível passar ao lado de placas como esta:
Na tentativa de desacreditar a existência real de Jesus, o filme Zeitgeist relaciona o Sol Invicto com o Messias e compara a sua crucificação com o movimento solar nas "proximidades" da Constelação do Cruzeiro do Sul ou Crux, no final do ano. Acontece que a Crux não é visível do hemisfério Norte, exceto em pontos muito próximos da linha do equador.
Zeitgeist não informa nenhuma posição geográfica específica ou época remota, fazendo uso de uma tremenda imprecisão científica, no que diz respeito às grandezas astronômicas, ao afirmar com um relativismo displicente que o Sol passa nas "proximidades" da Constelação do Cruzeiro do Sul.
A imagem a seguir mostra uma projeção celeste para as coordenadas da cidade de Jerusalém (latitude 31.46.00 N - longitude 35.14.00 E) no dia 25 de Dezembro, ou máxima inclinação sul:
É importante deixar claro que a Constelação do Cruzeiro do Sul só está visível na imagem acima porque o simulador (software Stellarium) foi configurado para não mostrar o plano terrestre de Jerusalém, como se fosse possível que um observador olhasse para um chão transparente e visse as estrelas através do planeta Terra. O céu exibido está abaixo da linha do horizonte de Jerusalém, de onde não pode ser visto. Isso foi feito justamente para mostrar que mesmo se estivesse visível, além do espaço entre ambos estar intercalado por outras constelações, ao invés de proximidade, existe uma enorme distância relativa (cerca de 40º) entre o caminho do Sol (eclíptica) e a posição do Cruzeiro do Sul. Algo que não dá o mínimo respaldo para a teoria mostrada em Zeitgeist.
Comparando com o "screen shot" abaixo que foi obtido de uma cena de Zeitgeist, concluímos que a abordagem do filme é bastante enganosa:
O círculo dentro da cruz realmente pode ser usado para representar o Sol e se trata de um símbolo bastante antigo. Mas não deriva da passagem física do Sol num ângulo que permita a impressão relativa de que ele esteja sequer nas adjacências e muito menos cruzando o centro da Constelação do Cruzeiro do Sul, conforme Zeitgeist tenta fazer acreditar, manipulando imagens e argumentos.
O vocábulo "horóscopo" costuma ser traduzido do grego como "observar as horas", deduzindo "horos" como horas e "skopein" como observação, pois um astrólogo realiza suas previsões observando o movimento dos astros em função do tempo. Embora a tradução não esteja incorreta, ao invés de "hora", o termo mais adequado para relógios solares é "quadrante". Portanto, aquilo que o astrólogo observa são os quadrantes astrológicos que repartem o céu.
O zodíaco consiste numa faixa da esfera celeste de 17º de largura sobreposta à eclíptica e por ela repartida em 8,5º de latitude boreal (ou norte) e 8,5º de latitude austral (ou sul). Essa faixa está dividida em 12 setores de 30º que correspondem aos 12 signos e nela se movem os planetas do nosso sistema solar, na perspectiva terrestre. Diga-se de passagem, falo do zodíaco trópico que não deve ser confundido com o zodíaco natural, formado pelas constelações. Esse último, além de ser um referencial utilizado para a orientação náutica nas grandes navegações marítimas, marca as eras evolutivas (Era de Peixes; Aquário; etc.), segundo a própria Astrologia e de acordo com um movimento de cabeceio executado pela Terra, conhecido como precessão dos equinócios. Não iremos aprofundar o assunto, porque o zodíaco natural foge do escopo deste artigo.
Voltando aos 12 setores da eclíptica, por sua vez, eles podem ser subdivididos em quatro intervalos ou quadrantes que correspondem às quatro estações do ano.
Na perspectiva geocêntrica, a Terra está no centro de uma cruz que contém os quatro pontos cardeais celestes, onde se traça o círculo eclíptico (envolto pela faixa zodiacal) através do qual o Sol parece se mover, dando origem às quatro estações. Na perspectiva do nosso sistema solar, é o Sol que ocupa a posição central dessa cruz, com a Terra orbitando a seu redor, gravitando pelos intervalos zodiacais que correspondem às quatro estações. Assim se pode perceber que a cruz é um símbolo antigo, rudimentar e anterior ao cristianismo. As próprias escolas de mistérios sustentam sua procedência solar.
Publicamente, a Ordem Rosacruz AMORC divulga uma origem quase acidental na adoção de seu símbolo:
"Do ponto de vista lendário, consta dos nossos próprios registros que o homem usou pela primeira vez o símbolo da Cruz quando, no Egito, ou talvez na Atlântida, um místico se pôs de pé numa planície, ao alvorecer e, voltado para o Leste, ergueu os braços estendidos, à altura dos ombros em adoração ao sol (a fonte da vida). Depois, voltando-se para o Oeste, a fim de saudar o ponto em que a vida havia simbolicamente terminado, percebeu que os seus braços e seu corpo, nesse gesto de saudação, formavam uma sombra no solo, à sua frente, projetada pelos raios do Sol nascente. Aquela sombra tinha a forma da Cruz e, para ele, significava que a vida era apenas uma sombra (a sombra da Cruz)." Manual Rosacruz - AMORC - pg. 92 - Sétima Edição - 1981
Assim, a cruz encerraria o emblema da matéria e do próprio materialismo que aprisiona a alma. Alma representada por uma rosa, parcialmente aberta, simbolizando um eterno desabrochar no percurso evolutivo, através de inúmeras encarnações...
Sem dúvida, trata-se de uma explicação com toques de beleza mística e refinamento poético. Entretanto, considerando que a Ordem se ocupa do estudo e aplicação de leis naturais, no intuito de alcançar aquilo que chamam de "O Domínio da Vida" (título do principal livreto distribuído para divulgação e esclarecimento público sobre a AMORC), existem significados bem mais práticos e consistentes, ocultos na composição da rosacruz.
Analisemos a cruz rosacruz e o logotipo da AMORC:
Começando pela cruz rosacruz, notem que suas extremidades se dividem em três saliências convexas, totalizando 12 brotos que nada mais são do que os 12 signos do zodíaco, assim como os braços representam as quatro estações do ano. O halo pontilhado circundante faz o papel do sol, lembrando que as rosas, como as flores em geral, são os órgãos sexuais das plantas e a maioria das espécies desabrocha na primavera. Assim, a rosa central é uma representação primaveral do Sol, envolta por sua luz.
No logotipo, a letra "O", do nome AMORC, representa o Sol na cruz rosacruz. Observem que a rosa ocupa o ponto central do círculo como no símbolo gráfico ao lado que, na Astrologia, é usado para representar o Sol. Sobreposto à rosacruz, vemos o globo solar alado, contendo um triângulo com uma cruz laçada. Esse laço é conhecido como Ankh, Cruz Ansata ou Cruz da Vida, um símbolo egípcio que costuma ser interpretado como significador de eternidade. Não deixa de ser, pois evoca a fertilidade ou continuidade da vida através do intercurso sexual. Por sua vez, o triângulo voltado para baixo simboliza a manifestação no plano físico, segundo ensina a própria Ordem. A relação entre a rosacruz superior e a rosacruz contida no triângulo da manifestação material, deriva do axioma hermético: "o que está em cima é como o que está embaixo; e o que está embaixo é como o que está acima".
Na rosacruz hermética, a expressão INRI, utilizada na crucificação de Jesus, é permutada de "Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum" (Jesus, Nazareno, rei dos judeus) para "Igne Natura Renovatur Integra" (A natureza é renovada completamente pelo fogo). Ora, esse fogo não é outro senão o calor do Sol que reanima a natureza adormecida durante o inverno, despertando-a para um novo período regenerador. Trata-se do anúncio de uma revitalização através da primavera vindoura. Portanto, considerando todos os seus elementos, o símbolo acima representa a eterna manifestação física dos ciclos correspondentes às quatro estações.
Conclui-se, portanto, que tal cruz é puramente panteísta e nada tem a ver com o cristianismo, conforme alguns prefiram acreditar. Além disso, encerra muito mais um profundo conhecimento dos fenômenos naturais do que um significado explicitamente espiritual. O significado espiritual, capaz de tomar vultos de uma religiosidade politeísta ou de um monoteísmo solar, emana da identidade pagã com as forças da natureza.
O panteísmo é um sistema filosófico que identifica ou vê Deus em todas as coisas e fenômenos do mundo. Deriva de Pã ou Pan, deus mitológico dos bosques, rebanhos e pastores. Do grego, "pan" (tudo, todo) e "theos" (deus). Neste ponto, percebam que estamos analisando fenômenos físicos, ao lado de necessidades e apegos materiais, em torno dos quais alguns cultos foram organizados. Inadvertidamente, existe quem venere e sacralize tais ícones dos prodígios da natureza, em detrimento de sua devoção a Deus, espalhando o erro de adorar a criatura ao invés do Criador:
“Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” Romanos 1: 25
Jesus não nasceu em 25 de Dezembro, pois, se fosse realmente pleno inverno, estaria contrariada a afirmação de Lucas que informa a presença de pastores ao ar livre, mantendo vigília noturna sobre os seus rebanhos:
"E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho." Lucas 2:7-8
Mas, uma vez que a Igreja oficializou a data para comemorar o seu nascimento, alguns opositores de Cristo se aproveitam para tentar vincular o Nome de Jesus com os deuses solares pagãos. A cruz solar existe e persiste, mas embora possa ter tudo a ver com a agricultura, nada tem a ver com Jesus Cristo. Lembremos que os antigos eram pessoas práticas e a previsão do tempo é algo fundamental para uma sobrevivência baseada no plantio. Dentro de um planejamento agrícola era essencial que o ritmo das estações fosse devidamente compreendido. Essencialmente, os 12 signos são ferramentas que satisfazem a necessidade de "prever para prover".
Ao falarmos em agricultura, retomamos ao tema de Saturno que é considerado o pai da lavoura, na mitologia greco-romana. Ele teria aberto a idade de ouro para os humanos ao ensinar as técnicas agrícolas, premiando com colheitas abundantes aqueles que plantavam e aguardavam o tempo necessário para o devido florescer. Mas Saturno também é o tempo implacável que tudo consome.
A foice que carrega como instrumento tanto serve para ceifar a colheita quanto a própria vida e em sua conexão com a morte, Saturno é a antítese de Jesus Cristo que a venceu e declarou:
"O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância." João 10: 10
IV. O Diabo à Luz de um Sol Crucificado
O que Aleister Crowley tem a nos dizer sobre o Príncipe deste Mundo?
Muitos dos que se horrorizam quando se fala em paganismo, reagindo com aversão ao nome de deuses antigos e de suas festas, não desenvolvem nenhum critério ou têm pouco discernimento sobre aquilo que está por trás de suas tradições. Portanto, não conseguem identificar os frutos pelos quais se fazem conhecer e sentem dificuldade em compreender como se espalharam por diferentes nomes, mas sob os mesmos princípios (ou principados). Isso aumenta o risco de se tornarem neopagãos, pois iludidos por sua ignorância e fisgados pelos instintos, tendem a repetir, no tempo presente, exatamente o mesmo que era praticado no passado.
Aquilo que chamamos indistintamente de festas pagãs é caracterizado por eventos que apelam para um sentido de celebração da vida. Eles reverenciam um constante processo de renovação e continuidade da existência que está intimamente ligado à capacidade reprodutiva. Algo que serve de pretexto para libertinagens e orgias sexuais que afloram como práticas sagradas, desejáveis e recorrentes.
Saturno é o regente do signo de Capricórnio que tem no deus Pã, um de seus símbolos mitológicos. Segundo o Glossário Teosófico, Pã é:
"O deus da Natureza, do qual deriva a palavra Panteísmo; o deus dos pastores, caçadores, lavradores e habitantes das campinas. Segundo Homero, é filho de Hermes e Dríope, seu nome significa "Todo". Foi inventor da chamada flauta do deus Pã e uma ninfa que ouvisse o som deste instrumento não resistia ao fascínio do grande Pã, apesar de sua figura grotesca. Pã tem certa relação com o bode de Mendes, no que este representa, como um talismã de grande potência oculta, a força criadora da Natureza. Toda a filosofia hermética baseia-se nos segredos ocultos da Natureza e assim como Baphomet era inegavelmente um talismã cabalístico, o nome de Pã era de grande virtude mágica naquilo que Eliphas Levi chamava de “Conjuração dos Elementais”. Há uma lenda piedosa muito conhecida e que se tornou popular no mundo cristão desde o tempo de Tibério e que significa que “o grande Pã morreu”. Porém o povo equivoca-se muito nisso, pois nem a Natureza nem qualquer de suas forças pode morrer. Algumas podem ficar sem uso e esquecidas, podem ficar como que adormecidas durante longos séculos. Porém, assim que se apresentam as condições apropriadas para seu despertar, entram novamente em atividade, com uma potência dez vezes maior do que anteriormente."
De acordo com o texto, Pã é um deus campesino ou rural. Ele representa a força fecunda da natureza que, sendo imorredoura, pode até adormecer por longos séculos, mas, diante de condições propícias, volta à atividade com uma potência sempre aumentada. Pã era um exímio flautista, capaz de encantar as ninfas, tornando-se irresistível, apesar de sua aparência. Em complemento, no universo mitológico, Pã era extremamente querido por Baco, deus do vinho, reverenciado na Brumália. Notem que as ideias de natureza, sexo e prazer se interligam e convergem para Pã que além dos encantos de sua própria musicalidade hipnótica, ainda conta com os favores inebriantes do vinho de Baco, também chamado de Dionísio, pelos gregos.
Pã é um deus grotesco, meio humano e meio bode que se assemelha a Baphomet não só pela aparência, mas por ambos estarem ligados ao fascínio pelo poder desafiador e criativo relacionado ao instinto sexual. Existem diversas práticas ocultistas que trabalham no objetivo de redirecionar e converter a energia sexual em manifestações concretas dos mais variados desejos. A ligação com Saturno, nesse aspecto, é estreita, pois Saturno representa a necessidade de realização palpável. Algo que vai de encontro ao objetivo de manifestar as vontades através da assim chamada magia prática. Conforme veremos, o anel que cinge Saturno infere numa conotação sexual bastante explorada por Crowley que era um grande entusiasta do símbolo de Baphomet.
No corpo humano, Saturno rege tanto a estrutura óssea quanto a pele que é o nosso revestimento exterior. A pele (o maior órgão) demarca a fronteira entre o nosso organismo e o meio ambiente. Assim, Saturno estabelece tanto os limites estruturais, quanto o perímetro dimensional do corpo humano. Simbolicamente, abarcando os limites internos do quanto podemos suportar (estrutura) e os externos de até onde podemos ir (alcance). Seu metal é o chumbo que, de todos, é o que possui maior densidade. Identifica-se na ausência de cor, representada pelo preto e, no aspecto mineral, tem hegemonia sobre as pedras escuras. Geometricamente, Saturno está associado ao cubo.
Os próprios ocultistas fazem associações entre Saturno e Satanás, uma vez que entendem que Lúcifer, mesmo na figura de Satanás, é o portador da luz do conhecimento. Conforme já vimos, em outros artigos, no meio ocultista, assim como Saturno, Satanás é dito como aquele que permite que o homem alcance maestria e sucesso nos seus empreendimentos materiais e espirituais.
Podemos enriquecer essa nossa abordagem, observando dois arcanos do Tarô de Aleister Crowley: O SOL (XIX) e O DIABO (XV).
Abaixo está a carta do Sol:
Segundo o "Livro de Thoth", de Crowley:
"A própria carta simboliza esta ampliação da ideia da Rosacruz. A cruz expandiu-se agora para o Sol, do qual, é claro, ela se originou. Seus raios são doze - não apenas o número dos signos do zodíaco, como também do mais sagrado título dos Antigos mais santos, os quais são Hua (a palavra HUA, “ele”, tem o valor numérico 12). A limitação da lei mundana, que está sempre associada ao número Quatro, desapareceu. Desaparecidos estão os quatro braços de uma cruz limitada pela lei; a energia criadora da cruz se expande livremente; seus raios perfuram em toda direção o corpo de Nossa Senhora das Estrelas*."
*Nuit é um dos nomes dessa "Nossa Senhora das Estrelas", a mãe ou deusa egípcia dos céus, em oposição ao Pai cristão; principal oradora do "Livro da Lei", também de Crowley.
Sem conhecer um pouco sobre astronomia e Astrologia, as palavras de Crowley podem não fazer muito sentido. Mas quando se conhece, os braços dessa cruz se tornam claramente visíveis:
Cercada pelo zodíaco, na porção inferior da carta, vemos duas criaturas aladas que representam a bipolaridade macho/fêmea. Elas possuem asas de borboletas; ou seja, seres da natureza que também são símbolos de fertilidade. Insetos que promovem a polinização e se transmutaram de um estado larval para acasalar e reproduzir, como criaturas primaveris que são.
Curiosamente, Crowley teria no alpinismo o seu esporte favorito. As montanhas são símbolos fálicos naturais, relacionados ao poder viril e a ousadia. Na carta, uma montanha está cintada em seu cume por aquilo que Crowley chama de "wall", no Livro de Thoth. Além de ser uma referência aos anéis de Saturno, o termo "wall", como parede, se refere às paredes vaginais e essa montanha aponta para o Sol, o símbolo da fertilidade, da vida e do brilho da consciência. Convém notar que esse Sol tem o formato de uma rosa, o que é apropriado, tendo em vista que as flores são os órgãos sexuais das plantas, como já foi dito.
As pétalas dessa "rosa solar" possuem o contorno da cabeça de serpentes najas. Uma possível referência à Kundalini, energia adormecida na região do cóccix que se pretende fazer subir através da coluna vertebral para abrir os centros psíquicos do homem. Supostamente, tal energia deve ascender através de estímulos sexuais, ampliando a percepção da realidade. Em sua máxima ação ela despertaria as atividades sensitivas das glândulas pineal e pituitária, abrindo o olho espiritual e possibilitando estados de hiperconsciência. Veremos que, na carta do Diabo, o bode possui um terceiro olho que é de ordem estritamente espiritual. Tais serpentes solares são as mesmas que brotam do globo solar alado e das testas dos faraós, no Antigo Egito. São símbolos fálicos de uma sexualidade alegadamente transmutada. No caduceu de Mercúrio, também vemos duas cobras (polaridade negativa e positiva) que sobem através do bastão (coluna vertebral) onde repousa um Sol alado (consciência suprema).
Por sua vez, o Sol se encontra logo abaixo do signo de maior elevação que é Capricórnio, relacionado ao mito da cabra Almatéia e Pã.
O tipo de traço usado no desenho de Capricórnio (assim como, mais suavemente, no signo de Escorpião, senhor dos domínios do sexo), aumenta o contraste e coloca a figura num destaque ainda maior. Temos assim o sexo (Escorpião) como instrumento de autorrealização (Capricórnio).
Pã e Baphomet são muito semelhantes no que tange ao aspecto animalesco que, essencialmente, representa o instinto sexual. Baphomet, entretanto, é uma figura mais completa por reunir em si mesma os polos masculino e feminino, sendo, talvez por isso, muitíssimo apreciada por Crowley.
Repetitivamente, o simbolismo de Crowley aponta para o estímulo e o redirecionamento da energia sexual, visando algum tipo de criação ou manifestação mágica. Algo que não é surpreendente quando consideramos que vários sistemas esotéricos do Oriente ao Ocidente tentam controlar o magnetismo sexual, no intuito de provocar fenômenos ou manipular as forças da natureza.
O solve (da mão que aponta para cima) e o coagula (da mão que aponta para baixo) nos antebraços de Baphomet, dizem respeito aos princípios da alquimia. Mas o escopo alquímico de transformar chumbo (metal de Saturno) em ouro (metal do Sol) ou a alusão à pedra filosofal e o elixir da longa vida são antes figuras de linguagem para iniciativas de magia sexual.
Se orientarmos a cruz de acordo com as convenções geográficas dos quatro pontos cardeais, teremos uma cruz de cabeça para baixo:
A órbita da Terra forma uma elipse ou círculo achatado. O solstício de Câncer (ao Norte) corresponde ao afélio (braço vertical mais longo da cruz) que é a máxima distância do Sol em relação ao planeta Terra. Em contrapartida, o solstício de Capricórnio corresponde ao periélio (braço vertical mais curto da cruz) que é a menor distância do Sol em relação ao planeta Terra. Ainda que o desenho da cruz acima exagere tanto o achatamento elíptico quanto a distância do braço norte (Câncer), ele pode ser considerado correto, conceitualmente falando...
De tal forma, mais do que apenas uma provocação debochada, invertendo um símbolo atualmente usado pelos cristãos, o emprego da cruz de cabeça para baixo retrata a permanência de cultos de adoração sexual e devoção aos princípios de fertilidade, derivados da exaltação dos ciclos da natureza, dentro da religiosidade pagã.
Tais implicações sexuais, reprodutivas e mágicas ficam ainda mais evidentes quando examinamos a carta relativa ao diabo:
Observem o curioso formato dos testículos em relação à seguinte figura:
Dentro dos testículos existem oito criaturas, sete humanoides e uma híbrida, semianimalesca. Caracterizando um fauno, ela está desenhada no plano superior do testículo direito, com pernas de bode e cabeça disforme. Os demais entes possuem silhueta humana e são retratados como se estivessem sendo contidos por ela. Já as figuras do testículo esquerdo são puramente humanoides. Por sua vez, elas parecem fascinadas em sua reverencia ao bode, logo acima delas, sendo submissamente atraídas em sua direção, seguindo para o "topo da montanha"...
Além do bode, o fauno do testículo direito pode também representar o próprio Pã e o exercício da vontade para conter o ímpeto ejaculatório. Quando é dito que o "Amor é a lei; amor sob a vontade" (Livro da Lei, Crowley), convém considerar o intercâmbio frequente entre as palavras amor e sexo.
Os gregos reconheciam três formas de amor: Ágape, Filos e Eros. Sendo que Ágape é o amor incondicional, Filos é o amor de amigo e Eros é o amor erótico ou sexual. Eros é ainda o amor passional, movido pelo desejo possessivo. Crowley propunha substituir o desejo pela vontade, canalizando-o como se fosse um cavalo selvagem (ou bode montanhês) que, quando domado, teria a capacidade de conduzir o mago às maiores alturas e revelações dos segredos do Universo.
Nessa expectativa de transmutação alquímica, a energia animal ou libido de Pã, equivale à pedra filosofal em forma bruta. Por sua vez, o líquido seminal é o elixir da longa vida. Canalizar a energia libidinosa através da vontade e construir formas mentais para o propósito de realizações concretas, retendo o elixir da longa vida (sêmen) é o escopo da chamada magia sexual.
Carregado de magnetismo, o homem se tornaria senhor da potência criadora ao dominar a principal força da criação que não é outra, senão o sexo. Assim, Pã seria o instinto animal (metade cabra) domado pela vontade superior (metade homem) e capaz de redirecionar o poder de reproduzir a vida para outros planos vibracionais, inclusive abrindo comunicação com as dimensões do mundo espiritual.
O bode possui um terceiro olho de aspecto reptiliano (menção às serpentes da Kundalini) que representa justamente a abertura da visão espiritual. A letra hebraica "Ayin" inscrita no canto inferior esquerdo da carta é associada à palavra inglesa "eye" que significa "olho", complementando um sentido de onisciência numa representação do "Olho que Tudo Vê". No centro da carta está o caduceu de Mercúrio (Hermes para os gregos, Thoth para os egípcios) que, mitologicamente, é o pai de Pã. Já discorremos sobre as serpentes que se enrolam nesse cetro para representar a subida de uma energia bipolar que ao se fundir, alcançando o topo da coluna vertebral, produziria um estado de hiperconsciência que o Sol alado personifica. A serpente que brota entre os olhos dos faraós egípcios possui um significado similar, algo que também remete a um antigo preceito de divinização dinástica.
Observem a figura abaixo:
Do lado direito da legenda "The Devil" (O Diabo), vemos o símbolo do signo de Capricórnio. A legitimação do poder como resultado de um direito nato ainda costuma ser feita mediante algum tipo de associação de origem superior ou divina, comum no estabelecimento de grandes impérios.
Capricórnio é simbolizado por um ser cuja metade superior é uma cabra montanhesa e a inferior possui o formato de um peixe. Lemos em Gênesis que Deus criou o firmamento para separar as águas de cima, das águas de baixo (Gênesis 1:6-7). Se por "águas de cima" entendemos o "Tempo Eterno" ou o "Espaço Infinito", inferindo uma origem espiritual, fica fácil entender que a metade peixe de Capricórnio diz respeito à sua origem espiritual ou divina. Paralelamente, a metade cabra, diz respeito ao poder temporal.
Portanto, legitimar o poder temporal no pressuposto de um direito espiritual está de acordo com o simbolismo de Capricórnio.
O reino de Jesus não pertence a esse nosso mundo material, segundo Ele próprio afirmava por palavras, enquanto, por atos, rejeitava as suas seduções e recompensas efêmeras. Por outro lado, Jesus e seus apóstolos nos alertaram sobre o risco de doutrinas estranhas e contrárias ao propósito de salvação e reconciliação com Deus Pai. Considerando, por exemplo, que o planeta Saturno, em hebraico recebe o nome de "Shabtai" e está na raiz da palavra "Shabbath" (sábado); ou que, na língua inglesa, a palavra Saturday (sábado) pode ser traduzida literalmente como "Dia de Saturno", talvez fique mais claro porque Jesus não era cerimonioso em relação ao Sábado, promovendo o seu ministério e operando milagres sob o olhar escandalizado dos fariseus.
O cristianismo se mostra incompatível com a escravidão e a licenciosidade do mundo pagão. Em contrapartida, os defensores do paganismo acusam o legado de Cristo de reprimir os instintos naturais e agir contrariamente ao progresso científico e material.
Sobre tais conflitos, Jesus advertiu:
"Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia." João 15: 19
E pediu ao Pai:
"Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo." João 17: 14-16
Saturno encarna perfeitamente o princípio do Mal que recebe o nome de Satanás no Antigo Testamento e induz tentações ao homem sob as mais diversas formas, desde o início dos tempos. Sugestivamente, conserva o título de "Senhor do Tempo", representando com impecável desembaraço, o arquétipo do Anjo Caído que desejou ser igual a Deus, tomando o seu lugar no coração dos homens. Podemos encontrar diversos resquícios dos cultos destinados a Saturno através da predominância de vestuários negros, tonsuras, chapéus, objetos, projetos arquitetônicos, tradições religiosas e mesmo nos logotipos do meio corporativo. Quem quer que tenha um pouco de perspicácia, não terá dificuldade em encontrá-los.
Considerando que, desde tempos imemoriais, tais desvios se encontram infiltrados e arraigados no âmago do berço cristão, talvez entendamos melhor o fato de Jesus ter dito tão duramente aos fariseus:
"Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira." João 8: 44
V. O Marketing do Adversário
Dividir e Conquistar?
"Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais vos diziam: Nos últimos tempos haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões; são sensuais, e não têm o Espírito". Judas I: 17-19
Uma das estratégias de conquista mais antigas consiste em promover intrigas, espalhar discórdias e se aproveitar do enfraquecimento da formação de partidos para manipular opiniões e tomar o poder. Maquiavel escreveu em "O Príncipe": "divide e impera"!
Satã, no hebraico, pode ser traduzido como "adversário" ou "acusador". Por outro lado, a palavra Diabo vem do grego diabolus, onde "dia" [grego] significa ir através, cortar ao meio, separar ou dividir; e "bolus" [grego], significa porção ou parte. Algo que resulta em separar ou "dividir em partes". Outra vertente etimológica associa o prefixo "dia" ao sufixo grego "bolein" ou "balêin", cujo significado é "lançar", resultando na expressão "lançar dividido" (ou separado). Em qualquer uma das formas, permanece o senso comum de que o termo diabo significa rompimento, separação ou divisão.
"Judas I" e "II Pedro 2" nos dão a dimensão de uma batalha espiritual onde o inimigo se vale basicamente de sua habilidade para acusar e fomentar separações. Nesse panorama, o principal alvo tático tem sido a Bíblia. Desacreditá-la, equivale a atingir o centro nevrálgico ou as colunas da fé de todas as denominações da cristandade e podemos citar três pontos cruciais nesses ataques:
1 - A Bíblia tem sido acusada de ser uma enorme colcha de retalhos com graves erros de tradução, adulterada pelos mais diversos interesses através de sua história. Algo que espalha o descrédito, levando à apostasia e causando divisões.
2 - Acusam a Bíblia de ser um grande livro alegórico, no objetivo de tratá-la como um simples acervo mitológico. Ocorre que a interpretação figurativa é repleta de subjetivismos que podem convergir para uma verdadeira torre de babel onde ninguém se entende, causando divisões.
3 - Há também quem manipule a Bíblia através de teologias baseadas na prosperidade e engordam as contas bancárias de suas congregações, proclamando como ungidos pela graça aqueles que são prósperos, nesta nossa sociedade de consumo. Já os que não desfrutam desse mesmo "sucesso milagroso" são acusados direta ou indiretamente de não contarem com as bênçãos ou os favores de Deus por conta de sua própria falta de fé. Igualmente, causando divisões.
Desacreditar a Bíblia através de artifícios controversos, negando a existência de Deus e a divindade de Jesus Cristo, é o expediente mais utilizado para criar divisões entre os cristãos.
Entremeando sutilezas verbais, existem aqueles que fazem declarações de que a Bíblia não é a Palavra de Deus, embora possa contê-la, em forma de relatos. Numa etapa seguinte, consolidada a tese de que se trata apenas de um livro escrito pelo próprio homem, investem em reduzi-la a uma invencionice humana e até a ideia de ao menos conter a Palavra de Deus é finalmente questionada ou mesmo descartada.
Teorias de adulteração também são bastante frequentes e, como qualquer boato, muitas das supostas denúncias não passam de especulações desprovidas de embasamento. Necessariamente, elas não se firmam em argumentos consistentes, nem em provas documentais. Basta espalhar dúvidas e, como último recurso, levantar hipóteses sombrias de documentos ocultados ou destruídos pela própria Igreja Católica. É preciso considerar com cuidado as consequências de militar a favor de conceitos polêmicos, separatistas e de fundamentação duvidosa. Antes, é mais sábio e responsável questionar se realmente se trata de uma verdade essencial para a salvação das almas ou apenas mais algum ardil do acusador para promover maiores desentendimentos e separações.
Sob a desculpa de estarem lutando a favor da revelação de uma verdade criminosamente escondida, parece que algumas pessoas, mesmo sem o saber, são usadas para causar escândalo e desunião dentro da Igreja. Um dos principais traços de falsas doutrinas está ligado a como são capazes de mexer com a vaidade excessiva de alguns e fazer com que se sintam especiais ou profetas de seu tempo.
Não se deve duvidar da existência de quem, sincera e ilusoriamente, acredite estar em posse de um conhecimento que poucos têm acesso e se sinta encarregado de reparti-lo, trazendo os demais à razão. Mas nem todos são marionetes e também não se deve descartar que há ainda os que investem em contendas com a intenção deliberada de desacreditar a Bíblia e a religião cristã como um todo.
Dentro do nosso tema central que é o Nome de Jesus, no quesito adulteração, convém comentar sobre as afirmações dos adeptos do "Movimento do Nome Sagrado" que negam a veracidade desse Nome, desprezando suas variações greco-latinas para apregoarem que a única pronúncia aceitável do nome Daquele que nos pode salvar é Yehoshuah.
No Brasil, eles são conhecidos como "Testemunhas de Yehoshuah" e defendem que os verdadeiros nomes Bíblicos foram deliberadamente alterados para que os cristãos não alcançassem a salvação. Acreditam, portanto, que todas as denominações cristãs estariam em erro mortal. Autointitulados como restauradores do nome sagrado, os membros dessa seita doutrinam que quem não observa a pronúncia hebraica, blasfema e invoca um falso deus de procedência pagã.
Existem evidências de que Jesus tenha sido poliglota e nem fosse por elas, a simples aceitação de sua divindade implicaria no reconhecimento desse carisma. Exemplificando, o título "Jesus, Nazareno, Rei dos Judeus" que Pilatos mandou afixar na cruz do Redentor foi escrito em hebraico, latim e grego, algo que remete a uma cultura multilíngue, fervilhando naqueles dias. Essa medida não poderia ser tomada de outra forma, exceto considerando as variações do nome pelo qual Ele era reconhecido por seus contemporâneos de diferentes origens, de acordo com as línguas mais faladas naquela mesma região.
Não é difícil encontrar estudos que se aprofundam nesse tema e demonstram que o Novo Testamento, originariamente, não foi escrito em hebraico e sim, em grego. Entretanto, com um mínimo de bom senso é possível perceber que as alegações sobre a deturpação do Nome não são menos do que outro ataque à credibilidade da Bíblia, assim como um insulto à inteligência de Deus.
Em sua infinita longanimidade e sabedoria, como é possível imaginar que Deus deixaria de reconhecer a súplica de um inocente pela pronúncia incorreta do seu Nome? Essas ideias se aplicam melhor às práticas de feitiçaria onde é preciso saber o nome exato de um demônio para conjurar sua presença e habilidades específicas. Mas a presença de Deus em todos que a Ele se mantêm fiéis é natural, ao invés de artificiosa.
Jesus nos ensinou a nos relacionarmos com Deus como o nosso Pai Eterno e Celestial. Assim como um bom pai terrestre não deixaria de atender a um filho porque ele só sabe balbuciar e não consegue chamá-lo corretamente, o Pai Eterno, muito menos ainda, iria nos desamparar por nossas limitações ou ignorância. Deus conhece os nossos corações e sua Divina Providência é capaz de atender as nossas necessidades, antes mesmo de qualquer clamor.
Como material de pesquisa, o estudo dos nomes em hebraico, realmente, pode ser bastante informativo. Mas como exigência para a redenção das almas, o assunto toma dimensões absurdas, confundindo a pronúncia do Nome de Deus com o poder de sua autoridade. Caso a polêmica em torno dos nomes fosse essencial para a salvação, estariam condenados os gagos, os fanhos e os mudos. Além disso, estariam condenadas as criancinhas (a quem pertence o Reino de Deus) que não aprenderam a articular corretamente e todos os portadores de diversos tipos de restrições fonéticas. Felizmente, somos salvos pela Graça e pela Misericórdia de Deus e não pela falsa suposição de uma erudição elitista e separadora.
Já no aspecto interpretativo, é importante buscarmos, sempre que possível e salvo quando existam claras indicações metafóricas, um entendimento literal do texto Bíblico. Do contrário, além de podermos ser enganados pela subjetividade pessoal, onde cada um é capaz de fazer a interpretação que bem entenda, causando grande confusão, também corremos o risco de darmos forma àquilo que os inimigos de Cristo mais querem: transformar a Bíblia num mero repertório de alegorias.
Ceder a esse tipo de jogo intelectual é percorrer um caminho cujos passos seguintes podem conduzir à armadilha de transformar a Bíblia toda em um grande acervo mitológico, onde Jesus Cristo é somente um personagem, representando o papel do herói. Ou convertê-la numa coleção de simbolismos ocultos que só pode ser decifrada segundo os ensinamentos das próprias escolas de mistérios, tendo em Jesus a figura de um de seus maiores mestres, grande hierofante ou adepto de alta hierarquia (mas um simples mortal e nunca a manifestação viva de Deus).
Dai em diante, ou a pessoa se torna cética, negando a existência de Deus; ou se deixa iludir pela ideia de que pode se tornar como Ele...
Não há muito o que dizer sobre as teologias que tratam a Bíblia tal qual um livro de autoajuda, aos moldes de "O Segredo", na perspectiva de atrair riquezas. Exceto que exploram a fé e transformam os seus púlpitos num leilão de graças espalhafatoso. Ou ainda, que convertem a relação entre o homem e Deus num comércio, condicionando a fidelidade dos que congregam em seus templos ao cumprimento das promessas de concretização dos favores divinos.
Simplesmente, barganham a intercessão de Deus através de desafios em dinheiro que fluem para as mãos de dirigentes dotados de uma inescrupulosa habilidade para extrair donativos de gente esperançosa de vê-lo retornar multiplicado. Nesse aspecto, porém, quem nada recebe; nada também deveria reclamar... Faz parte do pressuposto de qualquer transação fraudulenta que a vítima também não seja isenta de culpa, pois a maior causa de sermos enganados costuma vir do desejo de obtermos alguma vantagem.
Nisso, aqueles que vivem de tais doutrinas, muito se assemelham ao arquétipo de Saturno que tanto discutimos. Conforme mencionamos, o adjetivo latino "satur" está na raiz da palavra saturação, podendo decair num ideal de riqueza absoluta ou na busca por um patamar de plenitude que facilmente progride para uma gula irrefreável onde, primeiramente, não sobram nem migalhas de bom senso. Mais comida, mais sexo, mais dinheiro, mais poder, mais tudo!
Seja qual for o apego, ele se torna insaciável, ou melhor, insaturável...
Os três tipos de agressões à Bíblia que foram citados, convergem para os ataques do adversário, nas práticas de acusar e dividir. Como resposta, o termo latino "religare" significa "religar" e é considerado como uma das possibilidades etimológicas para a origem da palavra religião. Ele sugere o cuidadoso esforço que cada irmão cristão deveria fazer para restabelecer e manter tanto o contato com o nosso Pai Eterno, quanto a unidade da fé contra os inimigos da Igreja de Jesus Cristo.
"Quem não é por mim é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha" Mateus 12: 30; Lucas 11: 23
VI. A Marca Registrada de Jesus
Quem é Santo, afinal?
Vimos que a nossa sociedade de consumo, movida por ideais materialistas e baseada no poder do dinheiro, é capaz de coisificar e comercializar quase tudo, inclusive a religião e a espiritualidade. Também pudemos notar que o paganismo sobrevive travestido de celebrações aparentemente cristãs, como o Natal, mas extremamente pagãs quando não se observa a devida postura ou conduta. A influência dos ritmos da natureza (ditados pela mecânica celeste) está na raiz de ritos e cultos de fertilidade que celebram a continuidade da vida anunciada pelo crescente aumento da luz solar, em oposição às noites longas e aos riscos de morte que são inerentes ao inverno.
Jesus venceu a morte, transcendendo as limitações da matéria através de sua crucificação. Mas a cruz não é um símbolo essencialmente cristão. Ela possui um significado sexual relacionado aos ciclos naturais e o simbolismo da cruz e da rosa assume uma dimensão diferente quando consideramos que as flores são os órgãos sexuais das plantas... De tal forma, os conceitos fundamentais dessa cruz estão inscritos na abóbada celeste e podem ser lidos através de observações astronômicas e astrológicas. Não se faz aqui uma apologia à prática astrológica, mas apenas um apanhado geral para possibilitar um vislumbre de como isso funciona.
Mostramos que o simbolismo do diabo e de suas artimanhas para envolver o ser humano é claramente visível através das cartas do tarô. A pedra cúbica preta é um dos ícones de Saturno que, na Astrologia, rege as pedras negras. Em muitas versões das cartas, o diabo senta sobre uma pedra negra quadrangular ou uma representação do globo terrestre, demonstrando o seu poder sobre a matéria e a sua autoridade sobre os destinos deste mundo. As figuras masculina e feminina não estão realmente presas nessas pedras. Geralmente, as correntes ou cordas se mostram frouxas e as figuras não demonstram resistência. O que as prende são os próprios desejos, como faz um macaco que coloca a mão na cumbuca com enorme facilidade, mas quando cerra o punho para retirar o objeto desejado, prende-o por não largar o fruto pelo qual está obcecado... Jesus ensinava o desapego justamente por isso e as teologias da prosperidade são cumbucas de um mesmo tipo de armadilha.
Os estratagemas do adversário remetem a Saturno como aquele que aplica o "teste do tempo", pois o mal nos espreita por toda a nossa vida, exigindo vigília e oração. E quando mencionamos o fator tempo, o fazemos na perspectiva de que o processo de derrocada do cristianismo foi lenta e cuidadosamente planejado, para ser lenta e cuidadosamente executado. O Diabo não é apenas aquele que tenta o ser humano para demonstrar o quão facilmente o homem se corrompe. Etimologicamente, traduz a habilidade de acusar e dividir, manipulando a tudo e a todos. Destituir a credibilidade da Bíblia é a principal estratégia para confundir e separar os cristãos.
Conclusivamente, resta declarar aquilo que Jesus nos oferece como antídoto deste mundo. Valores intangíveis que não podem ser comprados por dinheiro nenhum. Nós, homens, somos todos pecadores diante de nossa natureza sensual, egoísta e belicosa. Ficamos encantados pelas coisas do mundo e podemos ser facilmente seduzidos pelo desejo de posse e poder.
Aquele que não é deste mundo e veio nos salvar da perdição, representando a longanimidade do Pai Eterno, rejeitou tudo isso. Além dos ensinamentos de um amor incondicional (Ágape), Jesus nos falou sobre a necessidade do desapego, pois mais que resistir quando tudo lhe foi oferecido, caso adorasse Satanás (o príncipe deste mundo); também falou para todos os que tiverem ouvidos e estejam fascinados por teologias de prosperidade:
"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me." Mateus 19:2
Não estou dizendo que devam abandonar os seus pertences e viverem como pedintes. Estou dizendo que o sentido de perfeição que manifesta a presença de Deus em nossas vidas não pode ser medido pelo acúmulo de bens materiais. As atitudes e pensamentos que atraem dinheiro estão de acordo com alguns princípios mentais que atuam sobre as leis e os mecanismos materiais deste mundo. Mas o espírito de santidade que deve repousar sobre o homem procede de Cristo; o único santo que já pisou neste vale de sombras e cujo nome é Jesus!
É importante discernir que é o santo que santifica o nome e não o nome que torna algo santo. Sem o caráter e a autoridade, o nome é vazio. Neste mundo mercantilista, onde a concorrência facilmente extrapola para táticas desleais, falsificar e adulterar são condutas rotineiras. Não aceitemos qualquer coisa, nem nos iludamos com a aparência de imitações enganosas, inúmeras vezes oferecidas. O Verdadeiro e Santo Nome de Jesus que identifica Aquele a quem seguimos e servimos, tem por marca registrada o Cristo, filial de Deus Pai.
Ele empreende pelos nichos do amor incondicional (Ágape); distribuindo produtos que não estão nas prateleiras dos Shoppings e Hipermercados, nem podem ser adquiridos com o dinheiro dos homens.
Entre tais produtos estão: O Amor, a Caridade, o Perdão, a Tolerância, a Fraternidade, a Graça, a Paz e, principalmente, a Salvação.
Como bem nos diz uma conhecida frase latina: "Sic transit gloria mundi"
"A glória do mundo é passageira"
Fonte: Tv Espiritual Online – by Endrissi
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Sobre Saturno faltou falar do "Retorno".
ResponderExcluirQue post incrível! Um dos mais exlicativos - se não o mais -, e o fim foi muito bonito. Eu estava precisando ler algo assim. Obrigada!
ResponderExcluirNao acredito em simbologia orientativa, Deus e a Escuridao antes da luz , e sao um so, Deus e tudo existente na face da terra, ha muito mais em execuçao do que simples fator comportamental, as imposiçoes comportamentais so servem como distraçao a inteligencia em habitaçao organica.
ResponderExcluirPost Fantástico Principalmente a Parte ( V e VI )
ResponderExcluirParabéns Deus abençoe Todos Vocês em Nome de Jesus